quinta-feira, 30 de julho de 2009

Ele- Amor



Ele caminha flutuando. Hipnotiza a todos com sua leveza angelical.
Seu doce olhar, profundo e sincero, reflete a grandeza de seu coração.
Nossos corpos aquecem com a energia que emana dele e nossos sentidos despertam à luz de sua presença.
Momentos únicos...
As pessoas chegam pouco a pouco: homens e mulheres; pobres e ricos; velhos, jovens e crianças. Não há predileção. Todos são os escolhidos. Ele unge a nossa alma com seu perfume de amor.
Momentos eternizados...
Enquanto ele fala protegido à sombra de uma videira, sentado sobre uma grande pedra, algo no mundo nunca mais será igual, não para quem escute as suas palavras.
A verdade é muito diferente do que imaginávamos. O amor, a justiça, a caridade, a riqueza, todas as questões filosóficas e complexas do ser, explicadas por ele, transformam-se em objetos de simples compreensão.
Penso: meu Deus, como é única a beleza desse homem!
Uma mulher capenga senta-se ao meu lado e envergonhada pergunta: quem é ele e eu respondo refrescada por lágrimas abençoadas: o nome dele é Jesus...
Cris Lopes

terça-feira, 28 de julho de 2009

Os Rios




(Telas de Eduardo Camões)

Águas urgentes, águas calmas desvendam caminhos desconhecidos a cada segundo... Os rios percorrem curvas sinuosas, trajetos suaves. Margens próximas, braços distantes. Em alguns momentos se deparam com barreiras. Impedidos temporariamente, no repouso forçado, os rios são pajés, sábios da natureza: cautelosos, pacientes, permeáveis, persistentes. Não desistem, rezam e esperam a hora certa de seguir adiante. Simplesmente sabem que ela chegará e será imprevisível, a mais bela, porque os libertará da solidão... Quando, finalmente, prosseguem, transbordam a vitória daqueles que determinados reencontram o seu verdadeiro caminho.
Em outras passagens, o destino alcançado, depois do percurso incessante, trabalhoso, revela tão extraordinária imensidão que os rios são meninos assustados, desejam, contudo temem o desconhecido e, receosos lutam, criam rodamoinhos, na tentativa alucinada de recuarem, de estagnarem-se, enquanto avaliam se devem prosseguir. Fugaz tentativa, porque a vida tem força própria, movimento incessante, dinâmico. E a vida existe em cada molécula de água que nasce na fonte. Assim os rios são mães abnegadas, generosas no final do caminho: entregam-se, incondicionalmente, ao mar para serem recriados, perpetuados em algo maior, muito maior...
O mundo gira e o tempo revela que não há fim no caminho: a terra é acariciada, penetrada, nutrida. Agradecidas, as árvores verdejantes, se regojizam. Frondosas oferecem repouso, abrigo e seus frutos. Testemunha vibrante, o sol, amigo companheiro, acaricia e abraça ás águas. Oferece seu calor e as conduzem ao céu, o lugar para onde devem ser enlevadas por mérito, merecimento...
O silêncio desse mágico momento é rompido pela alegria do vento. Levado, ousado, faceiro esfrega-se nas folhas, levanta as saias das flores e solta gritos estrondosos pelo ar. Anuncia a chuva que, tal como o rio um dia foi, é mãe generosa e abençoa a vida de seus filhos.O ciclo de amor, troca natural reinicia. As águas retornam de onde partiram. Diluídas, perdem a memória de suas conquistas, no entanto algo inexplicável habita nas profundezas, em essência. E, nas noites enluaradas, finalmente, os rios se iluminam: são velhos e descansam em paz sua satisfação plena, porque sabem de onde vieram e como devem seguir adiante e simplesmente o fazem...

(Cris Lopes)

Amar você



Amar você é abrir as janelas das manhãs todos os dias
E deixar o sol entrar, aquecer e abrigar meu corpo inteiro!
É sentir a primavera anunciar, no meu coração, seu canteiro,
Ofertando as mais belas flores, da cor de alegrias:
Plantio de um homem, doce companheiro,
Manso na conquista, do amor é ele o meu belo jardineiro...
Que sempre simples ao cuidar, o faça por inteiro!

Amar você é viajar na luz das estrelas, vencer o tempo e o espaço.
Dormir para sonhar longe de casa, e acordar no seu abraço,
Sentir o ventre ecoar o som de sua voz
Nas carícias, delícias: malícias sem mãos.
Toques imaginários,
Sensações plenas de prazer, reais:
Arrepios, gemidos, espasmos,
Desejo,
Desejo,
Desejo,
Dê jeito,
Deleito
O orgasmo explode
O gozo de nos pertencer,
De tanto gostar e mais querer...

Amar você é entrega: mergulhar o mar profundo sem medos,
E desaguar emoções veladas, sem mistérios, sem segredos...
Saber que não há risco nem perigo, só o abrigo amigo da certeza,
Revelada nas risadas, selada nas palavras coerentes, querentes, quentes:
Maravilhosa cumplicidade, fonte que unge nossas peles, une nossas mentes,
Desvenda o futuro: nós dois sempre juntos, apaixonados, caminhando lado a lado,
Realizando nossos planos, construindo nossas vidas, meu querido, meu amado!

(autora:Cris Lopes)

Nosso ninho


Nos momentos de nosso ninho, meu amor:
O sol namora, o céu sorri, a lua canta.
Sou livre, alegre, menina levada.
Teu corpo feito mar suave dança,
E, na valsa ondulante, doce é a entrega:
Quero te pertencer, ser desvendada,
Amada, ser a mulher tão e somente tua.
Flui a certeza de nossa aliança,
Eterna magia baila tal como criança,
Verdade faceira despe-se, rodopia nua.
O desejo gemente, querente seduz, conduz
Nossas carícias, nossos beijos, nossas bocas loucas.
O mundo gira, o mundo para e grito: vem amor, vem...
Minha respiração te excita, te convida!
Exalas meu cheiro em palavras roucas.
Tudo em nós é intenso, as horas são poucas!
O prazer é imenso e faz tão bem, meu bem...


Nos momentos de nosso ninho, meu amor:
Repousas em meu ventre,
Nossas fantasias, nossas loucuras sem medos.
Acalento nossos sonhos, abrigo teus segredos.
Tuas carícias, meus gemidos,
Provocam teus instintos latentes,
Aguçam meus sentidos ardentes.
Vibras o arco-íris, enfeitas minha flor,
Desfeita, refeita sem dor, perfeita em cor.
Sinto-te perto, liberto, repleto de mim.
Meu olhar te procura, encontra o teu
E aquieto-te, homem amado, saciado, só meu...
Adormecemos serenos, felizes, assim:
Mãos dadas, pernas entrelaçadas,
Almas abençoadas, perfumadas,
Sempre mais apaixonadas...
Cris Lopes

Per la vitta


(Tela de Alberto Sughi: O Grande Bar)

O carro conhece o caminho. Segue pela avenida principal, vira a terceira rua à direita e estaciona próximo à esquina. As mãos presentes no volante, trêmulas, são incapazes de lutar por mim. Hoje, só por hoje. A garganta seca reclama mais um gole, e é a que sempre vence a batalha, sem alarde, sem grito, sem força. Amanhã tento de novo!
O bar esfumaçado, sufocante é meu lugar preferido. Examino as mesas. Preciso de duas companhias para aquela noite. Sinto-me solitário, deprimido. É o preço que todos nós, dependentes, pagamos. As cortinas se fecham e após cada ato, os personagens, um a um, partem. Na última cena só existe aquele que se mantém até o final imutável, inflexível. Não há mais ninguém para aplaudí-lo ou enxotá-lo. Não há mais ninguém que chore a sua morte ou acredite na sua ressurreição.
A moça com o rosto grudado na janela parece habitar outro mundo.
- Meu nome é Alcides. Posso sentar-me com você?
- Faça o que quiser. Não me importo.
Bom começo para um homem como eu. É disso que preciso: uma mulher que não se importe, porque todas que se importam, mais cedo ou mais tarde me abandonam.
- Como é o seu nome?
- Polyana.
- Ah, como no livro?
- Não, eu sou a Poly do livro.
O garçom aproxima-se.
- Por favor, o de sempre...
-Eu prefiro um vinho tinto e seco.
- Um Camigliano?
- Pode ser.
- O que você faz, Polyana?
- Quando não sou Polyana, sou a Mulher Maravilha.
- E não existe nenhuma outra?
- Como assim?
- Quem está hoje, me dando o prazer de sua companhia?
- A sapa.
- Hum, quer dizer que preciso beijá-la para que a princesa apareça?
- Não há princesa.
- Sapa sem princesa?
Ela responde secamente:
- É. Sapa que atravessa escorpiões ao outro lado da margem. Conhece a parábola?
- Sim.
Ela vira o rosto para a direção da rua, enquanto eu penso na história. Quantas vezes eu fui o escorpião em minha vida? Incontável. Sempre quem tenta me atravessar é ferroado no fim do caminho. Meu poder destrutivo não tem limites. A minha natureza é essa: sou puro veneno.
- Então é melhor você ter cuidado comigo, porque eu sou o pior de todos os escorpiões que você já conheceu.
Pela primeira vez, sinto que falo algo que lhe aguça os sentidos. Um brilho enigmático surge do mais profundo de seus olhos e me deixa embaraçado.
- Seja bem-vindo a “dolce notte finale”!
- Obrigado, sapinha!
- Pode me chamar de Isabelle.
- Que lindo nome!
O garçom nos serve.
- Um brinde a nós!
- Per la salute o la morte?
Já faço essa escolha todos os dias. Respondo com outra pergunta.
- O que você mais deseja Isabelle? Hoje eu quero ser um gênio. Peça e eu atendo.
Ela não contém a gargalhada sarcástica e pergunta quantas doses eu tomei antes de chegar.
- Nenhuma. Estou na primeira. Peça!
- Está bem. Eu quero um caminhão numa rua escura.
- Eu tenho um Bugatti Veyron. Não é grande como um caminhão, entretanto é muito mais veloz!
- Não vale!
- Então me dá mais uma chance. Peça outra coisa.
- Um outro mundo.
Sinto-me desmoronar. Um outro mundo é tudo o que eu também desejo!
- E como é esse mundo?
Ela me olha por alguns segundos. Parece infeliz demais para gastar seu tempo conversando com um estranho sobre algo tão particular. No entanto, responde:
- Um mundo simples, onde o amor ainda está em alta e é capaz de fazer toda a diferença, de transformar as trevas em luz!
Há seis anos, a mesma sala, a mesma reunião. Muitas pessoas novas e poucas já bem conhecidas. Hoje, só por hoje, per l´amore, per Isabelle, per me...
Cris Lopes

A Naja


Myrna caminha sem calçados, alienada. O acaso do momento quase a despiu. Roupas finas, destoantes com a noite gélida, lhe ignoram o corpo inteiriçado. Os bicos dos seios tesos, abusados, gritam sob a seda fina escarlate. As curvas fartas do quadril ondulam num balanço displicente e sensual. O vento frio tonteia-lhe os cabelos longos e negros. Percorre tal como mão despudorada a garganta estreitada e no centro de seu peito, encontra o lugar certo para penetrar-lhe. Os olhos grandes, ocultos em algum lugar, muito distante, revelam a mulher angustiada e solitária. Fábio a segue por quase meia hora. Sente-se atraído, de olhar fixo, como se ela fosse uma naja a dominá-lo no ar. Aquela mulher pode ser perigosa, porém existe apenas a possibilidade de copiar-lhe os passos descompassados. Saber o mistério, a música que a conduz. Seu corpo, sua mente desejam isso, inexplicavelmente desejam isso com urgência.
A racionalidade serve melhor ao medo, já a intuição é o cavalo da coragem. Lança-nos em labirintos, em abismos, em desertos, onde só existe o maravilhoso impulso de seguir a própria vontade. Muitas vezes só ganhamos feridas, dores, desatinos e desenganos. Entretanto, em raras ocasiões, revela encontros únicos, inesquecíveis, capazes de ensandecer bússolas. Sinaliza rumos, escolhe caminhos da forma mais eloqüente, repentina, e nos surpreende. Transborda emoções encasuladas que anseiam germinar. Derruba portas que nos permitem espionar um pouco do céu. E como sabê-lo? É preciso arriscar e se entregar à loucura.
Fábio observa que os passos da mulher fraquejam. Próximo, estende os braços para evitar-lhe a queda. O olhar preso no seu, lentamente despe-se do véu, aproxima-se e revela a cor de doces avelãs. Há neles muita umidade. Fábio sente vontade de abraçá-la, de aquecê-la, de afagar-lhe os cabelos alvoroçados,entretanto se contém. Não quer assustá-la. Deseja só que a música se aquiete.
-Meu nome é Fábio. E o seu?
-Myrna.
As mãos delicadas, cerradas, são espalmadas em seu peito. Fábio teme que vão empurrá-lo. No entanto, ela as deixa assim, apoiadas, sem peso. O triste olhar parece despertar manso. Espreguiça em movimentos lentos, cautelosos. Explora o seu rosto de homem: os contornos, os traços, as ocultas intenções. Fábio é atraente. O nariz longo combina perfeitamente com o queixo anguloso. Os cabelos fartos e ruivos contrastam ousados com os olhos miúdos e verdes. Myrna fixa o olhar em seus lábios. Penetra-lhe e desliza toda por sua boca. A sensação de engolir uma mulher inteira é galopante e o faz explodir num riso farto. O sorriso mais contagiante e iluminado que Myrna já recebeu. No céu, uma música começa a tocar, enquanto outra silencia.
Cris Lopes

Um Homem


(Tela de Salvador Dalí: Rosa Meditativa)

Existe um homem ao redor.
A passos firmes, lentamente, ele vem chegando.
Posso sentir seu perfume e sua alma.
Meu corpo vibra à sua aproximação.
Ele me olha feliz e sabe o tesouro que vamos encontrar.
Somos cúmplices de coisas já sofridas e de tantas outras ainda não vividas.
Há frescor no ar.
Tal como a brisa suave, suas mãos movimentam-se em meus cabelos.
Seu toque é sem pressa,
E transborda o meu coração de leão, solar.
Que maravilhoso homem é esse que chega! Penso.
Sem segredos, sem medos.
Fico a contemplá-lo simplesmente.
Já conheço o seu rosto e isso é tão estranho...
Fico a contemplá-lo novamente, docemente.
Ele penetra em meus sonhos, como menino levado, sem pedir, irreverente.
Seu carinho, sua voz, seus olhos me prometem tanto.
Seu jeito de ser é minha dúvida e meu encanto.
Não sei ao certo porquê nos encontramos no deserto.
Talvez os céus tenham apontado o caminho, talvez um pranto.
Existe um homem ao redor.
A passos firmes, lentamente, ele vem chegando,
Abrindo seu caminho no meu coração...
Cris Lopes

Espreguiçar Poético


Refugias o cântico de lamento.
A voz desnuda-se ao olhar atento.
Expulsas velhas palavras omitidas,
Sensações mal vividas,
Rejeições indefinidas,
Sem tempo.
Silencias o medo,
Que foge lento,
Ao vento.
O milagre cria-se aos pés sangrentos,
Lavados, sanados,
Cansados, amados.
A mulher desfalece lânguida, sem calçados,
Em abusos bem vindos,
Em gozos divinos.
Vibras o ventre vivente, vertente.
Pulsam corpos urgentes, gementes,
Moventes em ondas sincrônicas
De expressões atônitas.
Surrados, suados sugam o sumo supremo
De profundezas primitivas,
Fontes instintivas.
Fluido quente, querente faz a carne
Tremer, molhar, viver.
Adormecem os amantes,
Entrelaçados num poético despertar,
Cúmplices, quietos, certos como antes
De que sempre vão se amar!
Cris Lopes

Saudade


Penso em ti
Quando cega minha visão repousa, pousa no mar.
Ao som afoito de ondas vibrantes,
O desejo reflete a beleza perfeita.
Fluida carícia,
Sonora, surte prazer vadio, arredio ao corpo solar,
Que ousado, aflito o arco-íris lança, fecunda,
Se deleita e se deita.
A cor é profusa, a mente confusa!
Teu olhar de mato verde, teu cheiro de flor violeta
Vertem os meus sentidos.
A saudade solta, envolta navega
E te busca e te encontra em perdidas águas,
Onde amigas almas flutuam e calam os meus pedidos.
A voz ecoa ao vento, atento:
O sonho é real.
Te vejo no espaço,
E na calmaria
Sou magia, alegria,
Simples poesia.
Desperto...
Cris Lopes

O Bilhete


(Tela de Camille Pissarro: Café au lait)

Os sabiás bicam, alvoroçados, suas migalhas no parapeito da janela, após a hora do almoço. Observo a alegria de asas livres, a pressa em busca da satisfação, a generosidade de alguns em compartilhar um pequeno pedaço. Comem mais um pouco. Saltitantes, retribuem com alegria e doce melodia. Vejo-os partirem com a certeza de seu retorno no dia seguinte.
Tudo parece tão igual no parapeito da janela, contudo, na sala, há algo enigmático: o silêncio de Eduardo. E, por mais que tente desvendar o que seus olhos enxergam, fixados no jornal, o mistério prossegue. Quem é aquele homem ocupando o corpo e a poltrona de meu marido? Jamais o vira. O que está acontecendo? Será que Eduardo viajou sem me avisar? Foi abduzido por ETs? Como entender que alguém desapareça tão repentinamente?
Reviro nosso quarto, mas não encontro mensagem alguma. Na cômoda, nenhum recado, nenhuma explicação. Quantas vezes bilhetes presos ao espelho transbordaram seu jeito carinhoso de me amar: “Querida, amo você! Volto assim que puder”.
Dolorida é a saudade da ausência tão presente. E a presença ausente é a companhia que me amaldiçoa, me aprisiona e me condena ao desespero da verdadeira solidão. Corrosiva ao coração, enferruja minha alma. Envelheço precocemente, porque rouba, impiedosa, todos os meus sonhos. Angustiada, tento todos os remédios e, no fim, após cada tentativa, após cada fracasso, a certeza da impotência cresce. Tal como erva daninha me envolve. Sufoco, tonteio e despenco num abismo escuro, frio, vazio.
O café desce amargo pela minha garganta. Penso. Repenso. Reflito. Refaço. Desfaço. Busco e não encontro nada. Nas últimas semanas a campainha toca e anuncia, todos os dias, a visita de meu cunhado. Celso e o desconhecido permanecem muito tempo trancados no escritório. Quando o intercepto à saída, caminha apressado, em direção à porta, fugindo, e responde sempre o mesmo:
- Calma, Renata. Não posso falar nada. Tenha paciência!
Meus ombros caem, minhas costas encurvam, meu peito se fecha ainda mais. Ah, como admiro os sabiás! Não há generosidade naquele homem. Não há acalento algum nas suas palavras. Minha dor transparece nos olhos inchados, secos de tanto aguar e prossigo sem migalha...
Mais um dia, mais uma noite, mais um despertar letárgico. Mais um desjejum, mais um almoço. Ouço passos no andar de cima. Espero. Bebo meu café. O desconhecido desce e para à minha frente. Nossos olhos se encontram. Meu Deus, meu marido voltou! No entanto há algo estranho, absurdamente estranho. Malas?
- Eduardo, o que significa isso?
Pergunto, mas não quero saber! Minha mente grita: por favor, não me diga! Por favor, não me responda! Ele não escuta meus gritos silenciosos e prossegue:
- Amor, seja forte! Estou indo para o hospital. Resta-me pouco tempo de vida. Já cuidei de todos os detalhes com o Celso. Ele sabe exatamente tudo o que precisa ser feito e vai orientar você. Seria mais difícil ainda a idéia de morrer com você ao meu lado.
Ele aproxima-se. Beija-me suavemente a face e balbucia o bilhete que procurei, em vão, nos últimos meses: querida, sempre amarei você. Há muitas lágrimas no olhar dele. O meu continua seco. Em seguida, afasta-se, e arrastando-se, desaparece pela porta.
Agora sei: é veneno o amargo do café! Sinto um soco cruel, contundente no estômago. Fico cega, paralisada, sem respiração. Meu coração não se esquece de bater , no entanto viva, morro em poucos segundos.
Cris Lopes

Hermes


(Tela de Vincent Van Gogh: Retrato de Père Tanguy)

José beira os oitenta anos, mas ninguém diz. Aparenta no máximo setenta. É um homem que vive sem pressa e com sabedoria. Inteligência que nasce essencialmente da alma, e brota na sensibilidade de um bom e simples coração.
Sai de casa bem cedo. Na calçada, olha a porta do comércio ainda cerrada. Observa os movimentos dos vizinhos e escuta-lhes os bons dias, os até logos, as queixas. Sozinho, coça as curvas do maxilar e abaixa o olhar até o papel de um picolé amassado. Tira o pequeno boné que lhe disfarça a calvície e, por alguns minutos, cerra os olhos lacrimejantes...
Caminha, então, duzentos passos, até um pequeno portal de ferro. Fixa as lanças. Sente-lhes atravessar o coração. Respira fundo a coragem do momento. Precisa ser forte pelo tão estimado patrício. Toca a campainha. Ouve os latidos do Chuvisco e a disputa dos meninos pelo lugar de pódio na janela. E de lá, do topo da escada, ela, tão inocente, caminha em seu lindo sorriso. Ele a recebe com seus velhos braços. Há, naquele abraço, o segredar de amigas almas. Foi assim desde a primeira vez que a abraçou. Não tem filhos, contudo o amor que nutre por Márcia é verdadeiro e paternal.
O sol já promete no céu uma linda manhã primaveril, entretanto, para José, o dia não poderia ser mais nebuloso e nem ele mais velho. Sente-se pesado com a carga que responsabilizou a si próprio. No entanto, alguém precisava ser o mensageiro, então, em honra à amizade de tantos anos, cumprisse ele o papel de Hermes.
No centro da sala de estar, acalenta os mimos dos meninos que o chamam de vô, enquanto Márcia busca o café. O forte aroma desperta a casa. Pede a eles para brincarem no quarto, porque precisa falar com mamãe, sozinho.
Quando Márcia retorna com a xícara fumegante, ele a repousa sobre a mesinha de centro. José olha para Márcia e, da maneira menos cruel possível, lhe dá a terrível notícia. Os joelhos da moça se dobram e ela cai debruçada sobre o tapete. Encurvada, com frêmitos, soluça compulsivamente. A artrose se esquece dos joelhos e José se agacha. Suspende aquele corpo caído com a ternura de um anjo e o guarda.
O tempo urge em abandonar o passado. José, aos 85 anos, abriga, na família do amigo, o amor de filha e de netos. Tal como uma velha árvore frondosa, generosa, a melhor sombra oferece e se renova. Agora apostam que tem no máximo 60.
Cris Lopes

Tsunami


Gabriel respira ofegante, sentado à beira da cama. Seus olhos miúdos, fixados na janela, parecem cegos. Os cabelos negros em desalinho, a barba por fazer, a camisa amassada em reviravoltas do dia, a pele úmida e fria revelam angústia.
As cortinas entreabertas deixam o céu invadir, de relâmpagos, o quarto. Os repentinos efeitos luminosos e sonoros anunciam a chuva. Gabriel não reage. Não há sobressaltos. Veleja num mar revolto e tempestuoso de emoções. Ameaçado, perdido, tenta descobrir uma maneira para sobreviver. Contudo, lentamente, suas forças dissipam-se. Sabe que o Tsunami está próximo. Havia sido avisado, inúmeras vezes que, um dia, chegaria, entretanto preferiu o egoísmo de viver, isolado, no seu mundo, na sua ilha. A culpa o castiga. Reconhece sua irresponsabilidade e displicência. E agora? Não escaparia! Sabe que sua morte está próxima. Sente-se aterrorizado.
No quarto de vestir, ao lado, uma mulher escolhe sua melhor roupa. As outras saltam com jóias, perfumes e potes de creme para duas grandes malas, em gestos determinados e velozes. Tudo pronto. Olha-se no espelho do guarda-roupa, e pensa que, no momento, só levaria o essencial. Penteia, rapidamente, os longos cabelos. Retoca o carmim do batom. Admira a coragem que enfeita as avelãs de seus olhos. Mira tem a mente lúcida e, com certeza, jamais morreria sem lutar. Nunca nada a venceu. Viver sempre foi sua grande escolha, e por mais que sentisse os presságios dos tremores a sua volta, nenhuma tempestade a deteria.
Mira conduz as malas e as repousa no corredor. Retorna. Guerreira, protegida pelas trincheiras escavadas em sua alma, munida de todas as armas disponíveis, ignora o sofrimento agonizante do companheiro de treze anos. Aproxima-se e quando os braços dele, moribundos, suplicantes, tentam alcançá-la, não hesita e recua. A voz é firme e a frase pequena: nosso casamento acaba aqui. Meu advogado entrará em contato com você e não esconda mais a sua amante, porque, a partir de hoje, você é um homem livre.
Gabriel deseja que o quarto ganhe a dimensão do mundo. Deseja que a distância entre a cama e a porta seja infindável. Deseja aprisioná-la junto a si e gritar que não quer liberdade alguma, no entanto, em poucos segundos, observa a única mulher que ama sumir diante de seu olhar. Permanece paralisado, imóvel, sem ação, derrotado...
O Tsunami invade a casa. Avassalador, letal destrói tudo o que encontra pela frente. Gabriel é tragado, submergido e desaparece para sempre!
Cris Lopes

Homoafetividade


Escrevi essa coluna no meu blog para ajudar as pessoas a compreenderem melhor as questões ligadas à homossexualidade.
Observo que para a maioria dos pais há muita angústia ao se deparar com o fato de ter um filho (a) homossexual, além do mais, principalmente nos primeiros anos de autodescoberta, podem existir, para o (a) próprio (a) homossexual, sentimentos que causam mal estar como a culpa e o medo. Espero que minha objetividade, transcrita nessas linhas, ajude a elucidar dúvidas e aquietar sofrimentos. Tentarei abordar vários aspectos, englobando o maior número de questões que surgem nesse contexto.

DEFINIÇÃO
Homossexualidade (grego homos = igual + latim sexus= sexo) refere-se ao atributo, característica ou qualidade de um ser que sente atração física, emocional e estética por outro ser do mesmo sexo. O termo gay se refere aos homossexuais masculinos e lésbica aos homossexuais femininos.

MEU FILHO (A) É HOMOSSEXUAL?
Muitas vezes há confusão da família baseada em “sinais” e não em fatos, ou a confusão é da própria pessoa, dependendo de sua faixa etária, do seu jeito de ser e das experiências pelas quais passou.
Exemplificando:
- Jogos e brincadeiras sexuais entre crianças do mesmo sexo são frequentes na infância e, isoladamente, não determinam homossexualidade, tendo relação direta com a curiosidade e ao desejo de experimentar; saber “como é”. É preciso ficar atento somente se essas “brincadeiras” provocaram trauma. Geralmente os traumas ocorrem quando não houve consentimento e existiu alguma forma de coação, subjugação ou abuso. É mais comum que isso ocorra quando os envolvidos não pertencem à mesma faixa etária ou quando um grupo resolve agir sobre alguém isoladamente. Assim, dependendo das circunstâncias, é possível surgir bloqueios que precisam ser avaliados e tratados terapeuticamente. A criança quase sempre fornece indícios de que algo perturbador aconteceu. Há alterações na sua atitude habitual ou aparecimento de determinado sintoma. É comum que esse sintoma revele um comportamento regredido, como a enurese noturna (urinar na cama durante o sono), querer dormir no quarto com os pais, medos e muitos outros. Sempre que uma criança demonstrar um comportamento fora do habitual é prioritário conversar com calma e carinho, tentando entender o que está acontecendo, sem perguntas demasiadamente diretas e sugestivas. É melhor deixar a criança seguir com seu relato espontâneo e, com base no seu discurso, aprofundar as indagações. Também é relevante que haja um ambiente calmo, acolhedor, particular e, principalmente, um diálogo estimulado pelo amor e confiança.
- Na adolescência, eleger alguém do mesmo sexo como modelo é comum, e essa admiração pode ser confundida com o desejo sexual. Na verdade, o desejo é de ser como o outro e não pelo outro. Entretanto, quando o desejo é forte no sentido erótico e o objeto é sempre focalizado em alguém do mesmo sexo e nunca por alguém do sexo oposto, o homossexualismo é uma possibilidade mais concreta.
- A falta de desejo pelo sexo oposto pode estar ligada à baixa autoestima, timidez, insegurança, experiências de rejeição, não aceitação de como é realizada a aproximação do sexo oposto, sendo confundida com homossexualidade, quando o que existe na verdade é um bloqueio sexual.
Cada situação requer um “olhar” individualizado. O que pode determinar se há homossexualidade é a presença do desejo sempre pelo mesmo sexo e não a ausência de desejo pelo sexo oposto.
Os preconceitos, as diferentes formas de discriminação e a falta de informação contribuem para as dificuldades íntimas que permeiam as situações que envolvem homossexuais e seus familiares.
A maioria dos pais se angustia por achar que falhou ao educar o filho e precisa ser esclarecida que a orientação sexual não é determinada pela educação familiar, uma vez que qualquer tipo de influência externa vai ser ou não acolhida pela pessoa, conforme a sua própria individualidade. Além disso, há uma expectativa dos pais de se projetarem e se realizarem através dos filhos, como se a descendência determinasse também uma continuidade dos próprios sonhos e objetivos pessoais. Assim, quando os filhos não espelham o que desejam, a frustração dos pais pode causar rejeição.
Precisamos lembrar que o ser só existe a partir da sua condição de individualidade e que as diferenças que existem entre as pessoas podem ser enriquecedoras desde que os envolvidos se respeitem. Geralmente aprendemos e crescemos muito mais quando convivemos com alguém diferente de nós.
É importante, ainda, considerar o aspecto de que os pais priorizam o bem estar e a proteção de seus filhos, e assim surgem muitas preocupações quanto às dificuldades com as quais seus filhos vão se deparar na condição de homossexuais.
O fato é que todos os filhos, sendo homossexuais ou não, mais cedo ou mais tarde, serão conduzidos às situações que lhes causem dor, porém é a opinião, o diálogo, o apoio que se encontra na família o alicerce, a base que favorece a construção de uma individualidade com segurança emocional, capaz de elaborar e lidar com os obstáculos que se apresentem, independente de sua orientação sexual.
A tolerância, a cumplicidade, o desejo de ajudar aliados ao tempo e ao amor incondicional são os elementos fundamentais para que todos os envolvidos elaborem e pacifiquem suas angústias e se fortaleçam.
Contribuir para a felicidade de um (a) filho (a) é a principal meta para a maioria dos pais e é nessa meta que as soluções devem ser focadas. A homossexualidade não faz de um filho alguém inferior na sua condição pessoal. O (A) filho (a) homossexual é uma pessoa com todas as potencialidades inerentes ao ser. Simplesmente é diferente da maioria no que concerne a sua sexualidade e isso não lhe subtrai a capacidade de ser uma pessoa espiritualizada, um (a) profissional competente, um companheiro (a) que encontre a felicidade conjugal. A discriminação, essa sim é a única, quando encontra moradia na mente das pessoas, capaz de roubar-lhes algo!

SER OU NÃO SER HOMOSSEXUAL?
Ser homossexual não é uma opção, e mais do que uma orientação sexual, é uma condição. Ninguém é homossexual porque deseja, é simplesmente porque é. Qualquer tentativa em modificar isso é tão impossível e sem propósito quanto um heterossexual querer ser homossexual. Tentar deslocar ou distorcer o objeto do desejo só produz sofrimento para si e para os outros. Muitos casamentos são desfeitos ou sobrevivem infelizes, gerando terríveis situações para todos os envolvidos, quando alguém tenta descartar ou camuflar sua verdadeira sexualidade.
No casamento, ou em qualquer outro relacionamento amoroso, é preciso que haja afinidades (amor Filos), no entanto é fundamental também que exista o desejo, a atração sexual pelo outro (amor Eros). Quando um falta, a tristeza, a frustração, a irritação ou a sensação de mal estar são frequentes, e assim a relação adoece. O termo “sair do armário” está relacionado à autoaceitação e a autoestima. É preciso “sair do armário pela vida”, “sair do armário para o amor”, “sair do armário para viver um relacionamento de verdade”, “sair do armário pela certeza de que todos merecem ser felizes”.
Aceitar a homossexualidade pode ser fácil para alguns, contudo infelizmente nem sempre é assim. Dependendo do grupo social, no qual a pessoa está inserida, fundamentalmente no que se refere ao contexto familiar e religioso, e as características da personalidade com suas infinitas nuances, as pressões externas podem chegar ao extremo ou assim serem percebidas, gerando baixa autoestima, que agravadas pelo sentimento de culpa, de rejeição e de medo causam depressão, que em casos extremos se refletem em processos destrutivos.
Num contexto social não particularizado, houve avanço no pensamento e nas atitudes das pessoas, porém há muito ainda que se caminhar e se alcançar na totalidade social. O preconceito ainda existe e continua fomentando inúmeros prejulgamentos que, na verdade, são prejuízos. É responsável por ideias equivocadas, como a crença de que “isso não passa de sem-vergonhice” e é fomentador de atitudes que induzem à marginalização social e a atos de violência extrema, como espancamentos e homicídios, efetuados contra homossexuais, que desrespeitam os direitos humanos com crueldade.

HOMOSSEXUALIDADE É DOENÇA?
A homossexualidade já foi considerada como um distúrbio mental no passado. Há alguns anos esse conceito não se aplica mais conforme resolução da OMS (Organização Mundial de Saúde) de 17 de maio de 1990, declarando que "a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão" e que os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura da homossexualidade.
Desde 1991, a Anistia Internacional passou a considerar a discriminação contra homossexuais uma violação aos direitos humanos.
No entanto, a homossexualidade ainda é motivo de atendimento psicológico e clínico, porque dependendo do entendimento da pessoa, ou de seus familiares, conflitos emocionais e reflexos dos mesmos podem surgir como sinais e sintomas físicos (somatizações).
Em relação ao Código Internacional de Doenças (CID), que é a codificação com a qual o médico identifica e informa a causa que conduziu o paciente ao atendimento, há ainda discussões e controvérsias quanto a retirada do homossexualismo definitivamente do CID.
Anexo o endereço eletrônico do editorial, que está disponível na internet, para que o leitor, se assim o desejar, possa ter acesso a uma informação mais completa.
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-89101984000500002&script=sci_arttext
Enquanto o homossexualismo for causa de atendimento nos serviços de saúde, concordo com o exposto nesse artigo, que não deva ser retirado do CID. No entanto, seguindo a mesma linha de raciocínio, no dia que todos os homossexuais informarem em suas consultas, estados mórbidos diversos pela razão de serem “gays’ ou “lésbicas”, o homossexualismo precisará ser excluído definitivamente do CID. Caso contrário há de se criar outros códigos específicos para que haja equidade entre a etiologia e consequente codificação de todos os atendimentos realizados e que ainda não são particularizados como os de homossexuais. Justifico-me com o exemplo de uma condição que pode gerar sofrimentos semelhantes ao de “gays” e “lésbicas” em todas as suas nuances: dificuldade de autoaceitação, baixa autoestima, desestruturação social e familiar, bloqueios sexuais e que representa a causa de uma parcela muito maior de atendimentos do que a de homossexuais: “mulheres traídas” e “homens traídos”, inclusive com afirmativas tais como “não agüento mais ser mulher” ou “ser homem está sendo muito complicado”, enfim o que pensar diante do fato? Se a queixa da mulher ou do homem fosse: “Estou aqui porque sou um heterossexual traído” entraria para o CID ou continuaria a ser classificada conforme o quadro clínico que se apresenta?
Homossexuais ou heterossexuais, dependendo das circunstâncias e das situações a que estão sendo submetidos, apresentam as mesmas dificuldades, os mesmos sofrimentos. Existem minorias e maiorias, no entanto ao que concerne ao sofrer e de como reagir a isso, o que vai contar é a individualidade, depende principalmente da estruturação pessoal! Quantas pessoas, em suas trajetórias, vivenciaram perdas absurdas, situações limites e sobreviveram? Foram os “bandeirantes” dos seus caminhos à felicidade! A homossexualidade não precisa deter ninguém na sua trajetória. Todos os meios necessários para a pessoa seguir adiante estão disponibilizados dentro dela mesma e não do lado de fora, então que ela encontre-os e use-os!

HOMOFOBIA
Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Veja parte desse texto na íntegra no endereço eletrônico
http://pt.wikipedia.org/wiki/Homofobia
A homofobia (homo= igual, fobia=do Grego "medo") é um termo utilizado para identificar o ódio, a aversão ou a discriminação de uma pessoa contra homossexuais e, consequentemente, contra a homossexualidade, e que pode incluir formas sutis, silenciosas e insidiosas de preconceito e discriminação contra homossexuais.
No Brasil, além da Constituição de 1988 proibir qualquer forma de discriminação de maneira genérica, várias leis estão sendo discutidas a fim de proibirem especificamente a discriminação aos homossexuais.
O Projeto de Lei da Câmara (PLC) 122/2006, atualmente em tramitação no Congresso, propõe a criminalização dos preconceitos motivados pela orientação sexual e pela identidade de gênero.
No Estado de São Paulo, a lei estadual 10.948/2001 estabelece multas e outras penas para a discriminação contra homossexuais, bissexuais e transgêneros, garantindo alguns dos direitos dos quais, em muitas ocasiões, os homossexuais ainda são privados.
Segundo o professor Luiz Mott, do departamento de Antropologia da Universidade Federal da Bahia, a homofobia é uma "epidemia nacional". Ele assevera que o Brasil esconde uma desconcertante realidade: "é o campeão mundial em assassinatos de homossexuais, sendo que a cada três dias um homossexual é barbaramente assassinado, vítima da homofobia".
A questão é que vivemos numa sociedade e aqueles que fazem parte de minorias sofrem opressões e discriminações mais facilmente. E, quando a questão envolve sexualidade é mais complicado ainda. Dependendo da falta de acesso às oportunidades, os homossexuais são marginalizados e alavancados à promiscuidade.
Há que se esclarecer, buscar informações, se inserir num contexto de identidade para se fortalecer. Contactar-se, filiar-se a ONGs ou participar de grupos afins facilitam, quase sempre, um fortalecimento individual. Vozes unidas podem ser ouvidas com mais facilidade, sem gritos...
É urgente se expandir a consciência de que os homossexuais são cidadãos e que, nessa condição, pagam seus impostos como qualquer outra pessoa e, portanto, precisam ter acesso a tudo que se constitui, de fato, em direito seu também. Enquanto não existir justiça social, na sua condição essencial de imparcialidade, é necessária a criação de medidas legais para que seja abrangente a todos. Existe uma famosa frase de Martin Luther King que alberga a questão: “Aprendemos a voar como pássaros e a nadar como peixes, mas não aprendemos a conviver como irmãos...” No dia em que a humanidade for capaz de evoluir seu pensamento, não haverá mais a necessidade de se criar leis para que essa verdade possa ser vivida por todos, porque ela estará escrita em todos os corações, independente de sexo, gênero, raça, naturalidade, idade, classe social, crença ou religião.

REVELAR-SE OU NÃO PARA A FAMÍLIA?
Algumas lésbicas e gays desejam falar sobre sua condição sexual, enquanto outros consideram que a sexualidade é algo de caráter íntimo e que não necessita ser compartilhada com a família. Paralelamente, algumas famílias querem saber a verdade e abordam o assunto abertamente, enquanto outras preferem não saber e até rejeitam a ideia da revelação. Prefiro sempre ressaltar a necessidade do olhar, do sentir a individualidade. Não existe manual de como educar um filho (a), porque qualquer regra nesse sentido oferece grande risco. Só sabemos como educar um filho (a), à medida que o (a) conhecemos, que percebemos suas necessidades, que reconhecemos suas dificuldades, que vislumbramos seus dons e potencialidades. Da mesma forma, não existe cartilha ensinando como lidar com o fato de se ter um filho (a) homossexual. É natural que no primeiro momento não se encontre o melhor caminho, contudo o melhor caminho só é alcançado quando se tem coragem de tentar seguir adiante. Estar disposto a encontrar soluções através do diálogo franco, da cumplicidade e do respeito é sempre a melhor bússola que nos orienta em qualquer situação.
Quando os filhos não encontram espaço em casa para falar de sua sexualidade, os pais também não participam de uma parcela importante de suas vidas. Desconhecem seus amores e desamores, não compartilham as alegrias e os sonhos que envolvem os filhos quando se apaixonam, nem os consolam quando um romance acaba e assim deixam de exercer a missão como pais em sua plenitude. Existe prejuízo maior do que se excluir da vida dos filhos?
Frases tais como: “Não vai me dizer que você é lésbica!”, “Prefiro morrer a ter um filho gay!” são lâminas afiadas de rejeição que decepam a autoestima, a estabilidade emocional e os laços de afeto e são algo que precisa ser repensado, reconstruído com mais generosidade, com mais amor.
Quanto aos filhos é importante que compreendam a trajetória de seus pais. Analisar o passado da família é interessante porque oferece pistas para entender as dificuldades dos pais, no presente, em lidar com situações adversas à sua própria realidade.
A melhor maneira de não ser rejeitado é dando o exemplo e não rejeitando. Se uma mãe grita para o filho: “Prefiro morrer a ter um filho gay”, uma resposta conciliadora seria “Prefiro que você viva por ter um filho que te ama, mãe”. Assim não há mentira, entretanto se respeita o limite do outro e quem sabe, com esse tipo de resposta conciliadora, carinhosa, a pessoa reflita e repense a sua posição. A vida é dinâmica e o que hoje é impossível, amanhã poderá ser alcançado. A compreensão e a paciência são ótimas aliadas do tempo.
Quando os pais são radicalmente conservadores em relação a questões sexuais e “travam” qualquer tentativa de se falar do assunto e a pessoa, pelo seu jeito de ser, deseja compartilhar o que pensa e sente, a minha sugestão é que o faça com alguém da família que tenha uma visão mais acolhedora e com quem se sinta à vontade. Na falta dessa pessoa, que fale com um amigo, assim sofrimentos desnecessários podem ser evitados. E tanto para os filhos quanto para os pais, quando os obstáculos parecem intransponíveis, é sempre importante ressaltar que uma terapia, com profissional qualificado, contribui para que todos se sintam melhor e o caminho para seguir adiante possa ser desobstruído.
A verdade nunca deve ser vista como obstáculo por não ser ouvida por todos. Há muitas maneiras de uma pessoa ser verdadeira sem precisar triturar verdades para quem ainda não está pronto para recebê-las. Ser fiel a si mesmo não se contrapõe ao fato de saber respeitar os próprios limites e os dos outros, caso contrário a sinceridade gera o egoísmo e não a dignidade.

POR QUE ALGUÉM É HOMOSSEXUAL?
A orientação sexual não justifica que se limite a sexualidade humana ao tipo de relação sexual ou a genitália. Envolve muito mais o desejo pelo outro e a afetividade que nos conduz ao outro. O amor é algo que não precisa ser explicado e sim sentido, vivido. Atualmente esse aspecto relacionado mais ao romantismo e a afetividade é denominado de homofilia, e o termo homossexualidade fica mais restrito ao contexto exclusivamente da sexualidade. Prefiro não me deter a essas denominações. Penso ser mais importante dizer que para todos há um somatório de circunstâncias e experiências que vão estruturando o ego e moldando o ser na sua totalidade psico-afetivo-sexual. Independente de alguém fazer parte de uma minoria quanto a sua orientação sexual, não haverá de ser diferente no que concerne ao desejo de amar e ser amado, ao desejo de ser feliz, ao desejo de alcançar seus ideais. Não há de se entender a verdade para se viver e sim viver para se entendê-la e descobrir o quão maravilhosa é a sensação de viver a vida com alegria pelo que se é, pelo que se tem aqui e agora, pelo amor que temos das pessoas e pelas pessoas que fazem parte do nosso caminhar. Essa é a fundamental conquista de cada dia e que, se mantida, expande-se em algo extremamente benéfico, percebido como autorrealização, felicidade serena, afastando e aquietando todas as formas de desequilíbrio e perturbações. Quando amamos verdadeiramente quem somos e encontramos nas pessoas que nos amam, e que fazem parte da nossa vida, os nossos verdadeiros tesouros, abrimos a porta para o viver bem, para a simplicidade sábia de se ter os olhos grandes para o que se é e para o que já se tem e ter olhos miúdos para o que pode gerar sofrimento.
Algumas pessoas confundem pederastia e pedofilia. Outras se equivocam, achando que ser homossexual é sinônimo de ser promíscuo. Existem várias óticas que precisariam ser analisadas. Qualquer abordagem sob um aspecto em detrimento de outros não conduziria à reflexão profunda que envolve tantos interesses individuais, familiares, políticos e sociais.
Vou citar apenas as definições e relacionar algumas deduções lógicas ao foco do artigo que é o homossexualismo.

PROMISCUIDADE
Sempre que houver um comportamento sexual que coloque em risco a integridade física e emocional da pessoa e que haja conhecimento de suas conseqüências e concordância com isso. Prefiro definir assim, porque no meu entendimento uma coisa é ignorância e outra é promiscuidade. Explico. Por exemplo: um homem casado pode estar correndo grande risco em adquirir uma DST, porque sua esposa tem inúmeros parceiros sexuais sem qualquer proteção. Seria justo considerá-lo promíscuo se ele desconhece os relacionamentos extraconjugais diversos mantidos pela esposa? Mas o fato é que, apesar de não ser promíscuo, e por acreditar na fidelidade da esposa e pensar que NÃO PRECISA SE PROTEGER (usar preservativo), ele está ligado a uma situação que envolve promiscuidade e GRANDE RISCO.
Casais homossexuais podem ser comprometidos num relacionamento afetivo-sexual e serem monogâmicos ou não, se prevenirem ou não em suas relações como qualquer casal heterossexual ou bissexual.
Conclusão: opção sexual não determina promiscuidade e sim se nos protegemos ou não, se conduzimos nossa sexualidade e afetividade de forma a promover nossa saúde física e emocional.

PEDERASTIA E PEDOFILIA
Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.
O termo pederastia, do grego antigo paederastía, as (παιδεραστία, de παῖς "menino" e ἐράω "amar"), designa o relacionamento amoroso entre um homem e um rapaz. Por extensão de sentido, o termo foi utilizado para designar, além da prática sexual entre um homem e um rapaz mais jovem, também qualquer relação homossexual masculina. Devido à sua carga pejorativa e à associação com a pedofilia, os termos pederasta e pederastia têm caído em desuso e são raramente utilizados como sinônimos de homossexual e homossexualidade, além do que, acrescento, não são todos os homossexuais que preferem se relacionar com parceiros mais jovens.
A pedofilia é uma perversão sexual caracterizada pela atração física (ou de outra ordem) por crianças até a puberdade, sejam elas do sexo masculino, feminino ou ambos, sendo mesmo classificada como uma doença mental pela Organização Mundial de Saúde, enquanto a pederastia, pelo contrário, dirige-se exclusivamente para adolescentes do sexo masculino e não possui essa conotação de doença mental. Os dois termos são assim mutuamente excludentes. Os pedófilos podem ser de ambos os sexos (homens ou mulheres), incluindo adolescentes, e também de qualquer orientação sexual.
No Brasil, existe no Código Penal Militar o chamado “crime de pederastia” que não tem a ver com a definição clássica do termo (relacionamento entre homem e rapaz mais jovem), e se refere a atos libidinosos, homossexuais ou não, praticados exclusivamente por militares e no âmbito das Forças Armadas.
Os atos sexuais entre adultos e crianças abaixo da idade de consentimento (resultantes em coito ou não) é um crime na legislação de inúmeros países. Em alguns países, o assédio sexual a tais crianças, por meio da Internet, também constitui crime. Outras práticas correlatas, como divulgar a pornografia infantil ou fazer sua apologia, também configuram atos ilícitos classificados por muitos países como crime.
A idade de consentimento (do inglês “age of consent”) é a idade abaixo da qual se presume legalmente que houve violência na prática de atos sexuais, independentemente se a prática foi forçada ou não.
A idade de consentimento no Brasil é de 14 anos com aprovação dos pais e a partir dos 18 anos exclusivamente por aprovação do adolescente. Assim, se um adulto praticar atos sexuais com alguém que não tiver 18 anos pode, até que prove o contrário, ser processado, conforme a legislação brasileira, por crime de ESTUPRO, salvo se a (o) menor tiver de 14 a 18 anos incompletos e existir autorização dos pais expressa e comprovada.
No Brasil:
Estupro
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:
Pena - reclusão de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
§1º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.
§2º Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.

ESPIRITUALIDADE
Aprimorar-se é o que envolve o desejo de cultivar a própria espiritualidade. Se existe coerência entre pensamento e atitude no bem e a pessoa quer aprender com seus erros, e evitar atitudes que lhe causem prejuízos e aos outros, com certeza, estamos diante de alguém que deseja fazer de sua vida uma oportunidade dinâmica e construtiva.
Então por que erramos, aprisionados em padrões repetitivos tantas vezes? Simplesmente porque a imperfeita natureza humana não dá saltos. Não há como se alcançar a evolução da espiritualidade a partir de mutações tais como as genéticas. O processo autoconstrutivo é longo. Requer persistência e disciplina.
É preciso primeiro se conhecer bem e verificar quais os traços de personalidade e de caráter que necessitam ser lapidados. Somos os melhores artesãos de nós mesmos. Ninguém melhora a partir da vontade ou cobrança de outra pessoa. No entanto, quando há o desejo íntimo e espontâneo de progresso, a intenção verdadeira de se conduzir sempre em busca do melhor, após muitas quedas, se chega aos acertos, sem saltos mágicos. As mudanças são surtidas com o amadurecimento das experiências vivenciadas e bem aproveitadas. Dignidade, responsabilidade e sensibilidade são ferramentas que ajudam nesse processo de aprimoramento do ser. Particularmente, acredito que o amor e a fé são essenciais também, porque perfumam nossas almas com alegria e esperança.
Assim, independente da orientação sexual, uma pessoa pode ou não querer desenvolver sua espiritualidade. A orientação sexual não privilegia ou dificulta a espiritualidade de ninguém. É uma necessidade do ser espiritual consciente.
O ponto exato onde almejo atingir é que ao se tratar de homossexualidade, não é raro surgir “justificativas” para camuflar, mascarar comportamentos de risco e a falta de comprometimento com uma vida digna e produtiva, acusando as dificuldades sociais inerentes a homofobia e ao preconceito contra os homossexuais como as causas para corpos e mentes desocupados.
Há que se lutar por todos os direitos de cidadania. Mas independente dessa luta, existe a particular: quando alguém escolhe e se responsabiliza por estudar, trabalhar, construir uma vida digna, apesar dos obstáculos há de alcançar seu merecido lugar ao sol. Os mecanismos de injustiça social existem sim, porém a escola é garantida a todos. O acesso a empregos ainda pode ser dificultado, contudo trabalho não falta quando se tem boa vontade, criatividade e disciplina para aprender uma atividade e executá-la, mesmo que seja informal.
As pessoas que se deparam com obstáculos, aparentemente intransponíveis, e os transformam em desafios, conquistam sucesso com sua determinação. A Flor de Lótus, a flor que mais simboliza a beleza espiritual, nasce no lodo...
Lembro-me dos tempos da faculdade de medicina quando, diariamente, uma moça e sua enorme cesta de palha, repleta de pães, esperavam, além do portão de ferro, pelos intervalos das aulas todas as manhãs. Aos poucos, os sabores deliciosos das pequenas formas se espalharam entre nós e a grande cesta rapidamente passou a ser esvaziada. Certo dia, resolvi perguntar-lhe quem a havia ensinado a fazer pães tão deliciosos. Ela, para minha surpresa, respondeu: minha necessidade. Então, contou-me sua história. A família que conhecia e tinha era o marido e dois filhos pequenos. O marido trabalhava e ela cuidava das crianças. Com muita economia, após alguns anos, conseguiram dar entrada num pequeno apartamento, financiando o restante pela CEF. O marido morreu atropelado e ela se viu, com dois filhos pequenos, sem trabalho e com uma pensão de viúva que mal cobria as contas básicas de casa. Desesperou-se com a situação. Além da dor de perder o marido, ainda existia a preocupação angustiante de não saber como poderia ganhar mais dinheiro. Nunca havia trabalhado fora de casa e as crianças só ficavam na escola na parte da manhã. Decidiu ir à banca de jornal. Começaria a procurar nos classificados por empregos e então, ao lado dos jornais, viu a revistinha “Deliciosos pães de queijos recheados”. Devolveu o jornal e comprou as poucas páginas de receitas. Depois, os ingredientes, a cesta de palha e foi assim que tudo deixou de ser impossível e passou a ser um desafio. Disse-me que ganhava com os pães muito mais do que qualquer emprego de nível médio poderia lhe pagar por meio expediente e que era o suficiente para completar seu orçamento e criar os filhos com simplicidade, mas com o necessário. E o desafio foi bem sucedido e chamado de sucesso!
Quantas pessoas nós todos conhecemos que em suas trajetórias venceram obstáculos julgados instransponíveis? Não podemos querer esconder nossas falhas, nossos limites nas situações externas ou no comportamento dos outros. É claro que tudo que nos cerca é capaz de influenciar os acontecimentos, no entanto, não foi, não é e nunca será capaz de determinar a nossa vida. É preciso compreender realmente quem somos e o que desejamos e precisamos para sermos verdadeiramente pessoas realizadas.
O milagre da vida é saber, é acreditar que você pode mudar e melhorar o que quiser. Basta desejar de verdade e seguir adiante!
Cris Lopes

segunda-feira, 27 de julho de 2009

A Falta de Tempo


(Tela de Salvador Dalí: A Persistência da Memória)

A estrutura familiar sofreu grandes mudanças nas últimas décadas no Brasil, principalmente pela crescente participação feminina no mercado de trabalho. Além do fato de serem responsáveis, em grande percentagem, pelo sustento familiar sozinhas, as mulheres que mantêm uma relação estável quase sempre dividem o orçamento com o companheiro. Assim, frequentemente, sentem a falta de tempo como fator de ansiedade e angústia.
Apesar dos homens estarem cada vez mais conscientes de seus verdadeiros papéis na educação dos filhos, a mulher culturalmente e emocionalmente ainda se cobra ou é cobrada a mais.
Os filhos sempre precisam de atenção e carinho. Então como fazer? Como se desdobrar em duas? Em três?
É preciso avaliar cada caso individualmente com bom senso. As melhores soluções são aquelas que consideram os diferentes aspectos de uma situação. É possível reduzir a jornada (horas) de trabalho? Os filhos estão mostrando algum distúrbio significativo de comportamento ou afetividade?
É importante lembrar que as responsabilidades podem e devem ser compartilhadas pelo casal.
Família é time que joga do mesmo lado, então criar uma rotina para distribuir e realizar as tarefas, dialogando e tentando determinar a participação de cada um pode ajudar muito. Já pensou se um time entra em campo sem treinar e sem saber a função de cada jogador?
Se há auxílio mútuo, com certeza o resultado do jogo será melhor. O que acontece na partida se só um jogador se esforça? Assim, nas tarefas domésticas, se todos ajudam, sobrará mais tempo para que a família possa estar reunida numa atividade gratificante para todos.
Em relação aos filhos devem ser encorajadas as tarefas compatíveis com a faixa etária. Cultivar o excelente hábito da cooperação desde cedo é excelente exercício. Crianças que já aprenderam a andar podem ser ensinadas a “jogar” seus brinquedos numa grande caixa. É importante que os pais se orientem sempre por fatores facilitadores. Nesse exemplo devem ser evitados receptáculos pesados, com tampas que podem causar algum machucado na criança. Um grande baú de vime sem tampa é uma ótima opção para crianças pré-escolares e com uma dose de criatividade e um pouco de tinta, pode ainda ser uma peça decorativa interessante. Isso se aplica ao que foi abordado anteriormente. É melhor organizar considerando mecanismos facilitadores como aproveitar trajetos e horários, dia para pagamentos e compras, mobiliário prático e fácil de limpar, etc. Se há, por exemplo, um lugar para guardar a roupa suja é muito mais fácil para quem for lavar do que “sair catando” pela casa onde cada um resolveu deixar a sua... Pequenos detalhes economizam tempo... E aqui tempo é fundamental.
Mas tempo é fundamental para quem? É fundamental para o que?
Tempo é fundamental para todos. É preciso que criemos a oportunidade de termos um momento dedicado a nós mesmos. Fazer uma atividade física, se envolver em algo que nos dê prazer, enfim cuidar de si mesmo é tão importante quanto cuidar do outro. Se ame para poder amar e receber amor.
É muito bom expressar nossa afetividade, alimentando as nossas relações familiares com carinho. Crie dentro de sua casa uma ambiência de laços amigos e de harmonia. Abraçar com calma, deixando que a energia flua numa troca maravilhosa é sempre uma atitude que aproxima as pessoas. Compartilhar sonhos, desejos e aflições é o que nos situa na convivência e cultiva a confiança mútua.
Tente disponibilizar mais tempo para você e sua família, mas lembre-se que a qualidade do que você faz com o seu tempo é o fator mais importante para cultivar a sua própria saúde e a saúde de sua família. Então, avalie questões essenciais tais como atividade física, alimentação e lazer. Medite durante alguns minutos como você está vivenciando o significado de
DISCIPLINA,
ORGANIZAÇÃO,
COOPERAÇÃO,
PRATICIDADE,
AMOR,
AMIZADE,
BEM ESTAR
e acredite que você e sua família podem ganhar muito tempo com isso!

(Autora: Cris Lopes)