domingo, 20 de junho de 2010

Moça da roça


(Tela de Di Cavalcanti: Mulheres com frutas)

Quero um amor assim
Com sabor de fruta madura,
Colhida “na vez”,
Ofertada do pé!

“É doce, moça, tão doce...”
“Mode tomou injeção de açúcar, meu sinhô?”

Quero um amor assim
Feito dia de verão
Quando criança gulosa
Recebe na mão
Manga Rosa,
Manga sem casca!

“Eita, fruta gostosa!”

Agrada a boca.
Devagar, em lasca,
Deixa a fome tão louca
Que só uma fruta é pouca!

A vontade instiga,
Mastiga até o caroço,
Lambe a fruta em fileira.
Morde todinha pela beira!

“Ô, moça faceira...”
“Ô, meu sinhô...”
“Quando chupa manga se lambuza, viste?”
“Entonces, que ninguém me veja, porque desejo é outra inteira!”
“Eita, moça gulosa! Manga é fruta grande. Tá comendo kinem cereja!
“ Vixe, Maria! Esconjuro, pé-de-pato, mangalô três vezes!!!
Uai, sô! Ocê já viste moça da roça gostar de tiquim, de fruta pequena?”
(Autora: Cris Lopes)
Minas Gerais, meu lar há 11 anos.

sexta-feira, 18 de junho de 2010



SORRIA!
VOCÊ NÃO ESTÁ
SENDO
FILMADO
( by Cris Lopes)

"Palavras criam personagens que conquistam vida genuína com atitudes!"
(Autora: Cris Lopes)

Quem sou eu?


Quem sou eu?
Uma mulher no meio do caminho,
Esquecida de quem fui,
Estranha de quem serei.

Quem sou eu?
Uma mulher no meio do caminho
Rodopiando ao vento,
Vencida, solta na chuva,
Sem refúgio, ao relento.
Extraída da vida
Sem raízes, sem teu carinho...

Quem sou eu?
Uma mulher no meio do caminho
Inventando asas,
Esperando o sol volver,
Abrindo céus para voar até você!

Quem sou eu?
EU SOU, simplesmente,
UMA MULHER, corpo e mente,
Que não se aquieta
E não sossega o que sente!
(Autora:Cris Lopes)

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Adeus, Iaiá


Madrugada fria:
Passos,
Descompassos,
Ninguém sorria.

Longe, tudo tão perto.
As últimas horas:
Solidão, dor, agonia...

O corpo coberto,
O olhar incerto...
As mãos cerradas,
As palavras guardadas...

A luz resplandece no quarto sombrio.
Anuncia o momento da travessia.
Vozes amigas confortam-lhe o vazio:
Vamos?
Ela, lúcida, agradece e confia.
No rosto enrugado
Um esboço de alegria.
Nos outros:
Muitas lágrimas...
(autora: Cris Lopes)

(Tela de Nelson Screnci: Sorrisos Anônimos)

Com as pessoas
Aprendo,
Desaprendo,
Reaprendo
Um pouco
De quase tudo!
Cris Lopes
A Inteligência sem generosidade e sensibilidade
É tal como agulha sem linha:
Não alinhava, não remenda,não costura nada...
Cris Lopes





Chamada Atendida... Engano, Desencanto.


Teus olhos, amor,
Entristeceram-se nas paredes vazias.
Desejastes vê-las repletas de lindos enfeites...
E eu, que te amava tanto,
Aprendi a tecer estrelas
Só para o azul do teu olhar sorrir
E o Ano Novo conspirar
Ao teu contentamento...

Teu corpo, amor
Sofria de frio.
Desnudavam-te os panos,
Afagos, deleites ausentes de anos...
Quantas noites sem carícias, sem malícias,
Despertaram-te as manhãs sem euforia?
Doíam os teus pés,
Tuas costas também doíam,
Doía e só doía.
Doía tudo e doía onde ninguém via.

E eu, que te amava tanto,
Agasalhei-te com meu corpo,
Naufraguei as mãos em teus tecidos,
Sem descanso, sem gemidos,
E olvidei meus próprios gritos...

Tua alma, amor,
Sem inspiração,
Instável, sozinha,
Artista em pedaços,
Contraía falas,
E nada concebia...

E eu, que te amava tanto,
Alinhavei-te o pranto,
Teci enredos, novelos de contos,
Suspensos fios, sem pontos...

Por quanto quisestes,
Fui tua amante e tua amiga.
Perfumei de alecrim tuas feridas.
Atapetei o chão de rosas às tuas voltas,
Arranquei-te lágrimas contidas, agradecidas!
Abri todas as janelas,
Destranquei todas as portas.
Entreguei, confiei a ti o sol
E a alegria da minha vida!

E eu, que te amava tanto,
Abençoei teu rumo sem encanto!
No entanto,
Ceguei-me,
Desnudei-me,
Amaldiçoei-me...

E eu, que te amava tanto,
Recolhi-me no meu canto,
Sem nunca mais conseguir, amor, dizer-te
Adeus...

(Autora: Cris Lopes)