A festa natalina é sempre um momento reflexivo para quem acredita na eterna importância espiritual do mestre Jesus. E, ao pensar sobre a passagem de Jesus na Terra, sou remetida às bem-aventuranças...
Jesus plasma, ao realizar o Sermão da Montanha, a inigualável síntese do aperfeiçoamento humano. As idéias proferidas nas bem-aventuranças modelam um caráter notável e possibilitam semear a essência divina no interior da consciência humana. Constroem, metaforicamente, condutas morais e éticas albergadas em máximas de amor. É um chamado, um alerta que convida-nos a vivenciar concepções teóricas subjetivas através de práticas objetivas.
Há complexidade na simplicidade incomparável do Sermão da Montanha. A complexidade habita no julgo de que encerra uma proposta impossível como projeto pessoal, inatingível em sua plenitude. Por sua vez, a simplicidade permeia os ensinamentos de Jesus e transparecem a idéia de que são atemporais e aplicáveis a todos os indivíduos, a qualquer experiência vivenciada, porque são, em essência, límpidos e verdadeiros.
A questão é que precisamos criar pontes entre esses dois extremos para que possamos caminhar humanamente o divino. Se estagnarmos nossa vontade de progredir, emaranhados nas dificuldades que nós mesmos criamos, perdemos o sentido da vida e bloqueamos seu fluxo natural. Viver é como dançar. Dançar é muito mais prazeroso quando nos deixamos envolver pela vibração dos acordes e criamos os próprios passos. No entanto, se perdemos o foco no som que estamos ouvindo e nos ecos que a música repercute dentro de nós, não conseguimos dançar com ritmo e só realizamos movimentos descompassados.
A simplicidade dos ensinamentos de Jesus é essencial, porque é ela que oferece repouso, descanso aos aspectos complexos do ser e de sua existência, garantindo a renovação de forças para a vitória diária, criando a principal ponte entre o possível e o aparentemente inatingível.
A plenitude e a magnitude das falas de Jesus podem ser experimentadas pela condição humana, mesmo na sua atual imperfeição, se essas palavras são entendidas como pontos que vamos posicionando na linha, na trajetória de nossas vidas, como metas que fazem pequenas ligações e que nos ajudam a seguir o caminho menos doloroso. Só assim não as desperdiçamos como limites ou modelos imaginários. Há para isso que se fazer uma escolha íntima, um acordo legítimo consigo mesmo para se melhorar de forma autêntica, sem contenções e condicionamentos alinhavados nas malhas rígidas de culpas e medos desprovidos de amor. Precisamos nos libertar da dual falta de perdão e de coragem que nos aprisionam tão frequentemente.
Ser puro também é ter sinceridade na intenção. Ser manso também é ser forte para não se desviar de seus objetivos e não se perder em vinganças. Tudo é uma questão de como recebemos e vivemos as palavras de Jesus.
O Deus, criador das pequenas e grandes coisas, para quem oramos e clamamos diante de nossos sofrimentos, é também o Deus que habita a nossa intimidade e conhece as nossas necessidades. É o Deus que, como centelha divina, impele-nos para o bem e inspira-nos as melhores soluções para todas as vicissitudes, no recôndito silencioso de nossas almas. O Deus das causas impossíveis é também o Deus que existe, em potencialidade, desejoso por se expandir e florescer no jardim que precisa ser cuidado por cada um de nós, e que é o meu, o seu, o nosso coração!
Feliz Natal!
(Autora: Cris Lopes)