Teus olhos, amor,
Entristeceram-se nas paredes vazias.
Desejastes vê-las repletas de lindos enfeites...
E eu, que te amava tanto,
Aprendi a tecer estrelas
Só para o azul do teu olhar sorrir
E o Ano Novo conspirar
Ao teu contentamento...
Teu corpo, amor
Sofria de frio.
Desnudavam-te os panos,
Afagos, deleites ausentes de anos...
Quantas noites sem carícias, sem malícias,
Despertaram-te as manhãs sem euforia?
Doíam os teus pés,
Tuas costas também doíam,
Doía e só doía.
Doía tudo e doía onde ninguém via.
E eu, que te amava tanto,
Agasalhei-te com meu corpo,
Naufraguei as mãos em teus tecidos,
Sem descanso, sem gemidos,
E olvidei meus próprios gritos...
Tua alma, amor,
Sem inspiração,
Instável, sozinha,
Artista em pedaços,
Contraía falas,
E nada concebia...
E eu, que te amava tanto,
Alinhavei-te o pranto,
Teci enredos, novelos de contos,
Suspensos fios, sem pontos...
Por quanto quisestes,
Fui tua amante e tua amiga.
Perfumei de alecrim tuas feridas.
Atapetei o chão de rosas às tuas voltas,
Arranquei-te lágrimas contidas, agradecidas!
Abri todas as janelas,
Destranquei todas as portas.
Entreguei, confiei a ti o sol
E a alegria da minha vida!
E eu, que te amava tanto,
Abençoei teu rumo sem encanto!
No entanto,
Ceguei-me,
Desnudei-me,
Amaldiçoei-me...
E eu, que te amava tanto,
Recolhi-me no meu canto,
Sem nunca mais conseguir, amor, dizer-te
Adeus...
(Autora: Cris Lopes)