sábado, 11 de junho de 2011

Avesso



Amanheço com sabor de menta e café;
Adormeço com cheiro de camomila e malva.
Há muito aprendi o prazer dos gostos simples,
A sedução dos cheiros naturais,
Degustar a vida em canecas fumegantes:
Cascas de laranjas, calda de ameixas, cravos e canela.
Acariciar a terra com olhares e dedos.
Plantar, replantar...
Debulhar segredos,
Dedilhar o sol pelas frestas da janela,
Descortinar cores e flores.
Saber do tempo que o ar anuncia,
Vibrante movimento,
Seguir como as velas,
Entregues ao vento...

Sorrisos e Portas.
Mãos e Camas.
Pernas e Fugas.

A beleza de flor
A rosa revela
Do avesso...

Já deixei roupas sem amasso,
Arranquei roupas ao acaso.
Vestida ou nua,
Amada ou amordaçada tantas vezes
Pelos egoístas e mentirosos em seus currais,
Sou eu, livre, que danço a música dos temporais.
Sou eu, sozinha, que rodopio com a chuva no quintal...
Trovões:
Saravada,
Sacudo maldições.
Sou eu que cuspo na cara do mal,
Vitória decretada!
Vivo minhas histórias,
Abandono o que não mereço.
Sem olhar para trás,
Despasso,
Despacho,
Desfaço
E do avesso, amanheço.
Amanheço do avesso:
Frases,
Faces,
Fases,
Sempre mulher
Sou eu...
(autora: Cris Lopes)

Um comentário:

  1. Belíssimo.... é incrível a profundidade e a simplicidade com que se forma sua poesia. Parabéns!

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