sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Contraponto


Na atualidade, nada parece mais “démodée” do que “te dou minha palavra” ou “te dou minha palavra de honra”. Ouço essas frases só nos filmes épicos. É algo tão antigo como telegrafar para se comunicar com alguém distante. No passado, quem empenhava a palavra assumia a responsabilidade pelo seu cumprimento, e só admitia-se “falhar” em caso de morte. No presente, o pessoal usa o “eu juro”, contudo quem decide acreditar ou não no juramento é a pessoa que assume os riscos; fácil demais para que jura...
A palavra de honra da pessoa trabalhadora, honesta e íntegra foi roubada. E quem é o ladrão da palavra? Não há um. Existem incontáveis ladrões. Estão toda hora na TV, nos jornais, no rádio, na internet. O pior é que ladrão sempre quer mais! Agora, além da palavra, estão querendo usurpar a atitude.
A boa e firme atitude está desaparecendo do mapa. Duvidam? Então, vou citar alguns exemplos que vão do bizarro ao trivial. Começo por um dos últimos escândalos na esfera política: o do Ministro do Trabalho. Têm foto, filmagem, passagem e testemunhos. Só faltou adicionar “ao vivo”, e eu, telespectadora do Jornal Nacional, assisto o espetáculo de mais um corrupto político, diante de provas incontestáveis, declarar mentiras desavergonhadas e fazer cena novelesca: “Qual é o nome mesmo? Ah, senhores, minha memória também falha!” Paulo Rocha que se cuide! Tão bizarro quanto o fato em si é não ver indignação na cara de ninguém. Parece que há um “buraco negro” capaz de sugar toda a verdade durante as falas de políticos corruptos e criar uma invisibilidade de provas. A cena, nada improvisada, se repete: o ministro faz de conta que não sabe quem é, faz de conta que se lembrou, faz de conta que conhece pouco... No mínimo, essas pessoas desconsideram o valor do tempo de todos à sua volta. Permitir um depoimento tão debochado faz parte de alguma investigação séria? Ou será que é assim mesmo: ele desmente a verdade esfregada, enxaguada e bem passada e os outros fingem que acreditam. Provas de atos desonestos praticados por corruptos são ridicularizadas ou ignoradas com despudor! Estamos vivendo a época da “banalização” de falcatruas políticas!
Permitam-me voltar um pouco no tempo. Lembram da última eleição para presidente? Quantas pessoas argumentaram que tinham medo de votar na Dilma pelo que ela “poderia fazer”? No entanto, Dilma Rousseff que teve um passado de militância e viveu nas terras gaúchas por muito tempo, onde a fibra está na história do povo, decide o que? No caso do nosso Ministro do Trabalho, a Exma. Sra. Presidenta conclui que vai aguardar mais um pouco, afinal, em breve, terá que anunciar mudanças em outros ministérios! Quanto ao PDT, apesar das denúncias, grande parte do partido apoia a permanência do ministro em seu cargo, inclusive o presidente do partido, deputado André Figueiredo. Que tal verificar quem do PDT se posicionou contra?
Então, vocês duvidam que estejam roubando a atitude?
Vamos partir para o trivial... Experimente ter uma atitude de indignação diante de uma injustiça, ou tente reivindicar por um direito seu de consumidor, ou reclame porque você não está sendo bem atendido, ou demonstre que você percebe que por detrás de uma atitude “aparentemente” inofensiva, a pessoa está objetivando prejudicar você e veja o que acontece. Pessoas com atitude são avaliadas como mal educadas, ou chatas, ou encrenqueiras. E não estou me referindo à atitudes desregradas e violentas. Estou falando sobre a atitude que é você dizer o que pensa e defender os seus direitos. Está sendo cultivada a “bobotização”. Ser educado é “ser bobo"; é assistir uma pessoa fazer algo que lesa, desrespeita você e “fingir” que não está percebendo. Você finge ser “bobo”, e permite que ela acredite ser esperta. Só que todo padrão de comportamento repetitivo acaba se enraizando, ou seja, depois de algum tempo, com certeza você “estará” bobo e ela “estará” esperta. É esse o comportamento que a mídia está cultivando ao longo dos anos. Gente que admiro defende isso com as mais belas desculpas: é preciso economizar tempo, estresse, viver com serenidade. Concordo, porém desde quando falar o que se pensa faz mal para saúde? O que faz mal é engolir “sapos”. Engolir “sapos” pode ser a causa de diversas dores, dá constipação, dá bolo na garganta, dá insônia... É lógico que você não vai perder seu tempo com algo sem importância ou com alguém que não faz a mínima diferença na sua vida, mas abrir mão do que é direito seu vai contribuir para o que ou para quem? Esta semana ouvi uma apresentadora falar a seguinte frase: “Eu quero é ser feliz, não me importa ter razão!” Eu discordo. Consigo sentir alegria com muitos acontecimentos no meu dia-a-dia. sem precisar me alienar para ser feliz. Quero é ser cada vez mais feliz, porque mais sensível , mais verdadeira, mais realizada eu sou! Não consigo compreender que alguém precise se anular ou mentir para ser feliz. Graças a Deus, meus neurônios funcionam muito bem, então, ofereço à pessoas “espertas” o que penso, sem perda de tempo e sem estresse, afinal a gente deve comprar nas lojas que nos atendem bem, deve frequentar lugares que nos causam bem estar, ter como amigos as pessoas que nos querem bem, namorar quem nos faz bem... Isto é básico ou não é?
Estimulada pela indignação que me causou os teatros apresentados pelo telejornal assistido nesses últimos dias, dedilho meu teclado, ainda dona da minha palavra e querem saber? Com muita alegria, porque escrever é vibrante tal como tomar banho de cachoeira- lava o corpo e perfuma a alma!

(autora: Cris Lopes)

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