sexta-feira, 4 de maio de 2012

A educação brasileira está doente!




A educação brasileira está doente, que me desculpe o atual ministro da educação, Sr. Aloizio Mercadante e todos os seus antecessores. Quando li uma reportagem sobre as metas e problemas apontados pelo ministro e especialistas (Sr. Antônio Freitas, Sr. Roberto Salles, Sra. Priscila Cruz) me surpreendeu o fato de ninguém mencionar três questões prioritárias. E se ainda não foram identificadas, não podem ser solucionadas. Começo citando a necessidade de reformular o ensino para que seja inteligente, eficiente e prático. O aprendizado encerra basicamente conteúdos culturais e informativos. Cultura nunca é demais, pois enriquece o espírito e auxilia a vida. Já os programas dos conteúdos informativos são extensos e, em boa parte, inúteis. Assim, professores tentam “se virar” nos tempos de aulas para dar uma “quantidade” exorbitante de matéria que só vem aumentando, ao longo dos anos, enquanto os alunos precisam processar essa quantidade absurda com eficiência para serem "bem sucedidos" nos exames.
Diante do que é oferecido ao aluno como “ensino”, muitos desistem e ouso dizer que não são delinquentes, vagabundos ou preguiçosos. Desistem porque são inteligentes. Desistem porque sabem que para estudar tanta matéria haverá pouco tempo para VIVER. E que inteligência sacrifica a diversidade de possibilidades interessantes que a vida oferece para "aprender" tanta inutilidade? Há os que se cobram mais do que se permitem e se curvam, assumindo suas tarefas maçantes. O pouco tempo que lhes resta para outras atividades aliado ao estresse da cobrança lhes rouba a alegria. Isso é saudável? É urgente repensar esse modelo de ensino arcaico!
Há tantos ensinamentos interessantes que podem ser valorizados. Pode-se aprender sobre economia doméstica, mercado financeiro, culinária ou qualquer informação que favoreça ou auxilie de algum modo a vida das pessoas. Logaritmos, frequência de onda, tabela periódica e tantas outras aulas que deixam alunos “doidos” para depois serem esquecidas. Excepcionalmente, esses conteúdos complexos serão empregados pelos que fazem escolas superiores ou profissionalizantes. Portanto, são nesses patamares de formação que devem ser ensinados, porque serão aplicados e úteis. Para os outros, perder tanto tempo para aprender inutilidade é adoecer a inteligência! 
Será que as pessoas organizadoras do ensino brasileiro acreditam que quantidade produz genialidade? Ao contrário, percebo que quanto mais avalanches de conteúdos desnecessários são jogadas sobre os estudantes, menos eles demonstram interesse e prazer em aprender. Estudar se transformou num fardo, numa obrigação, numa decoreba gigantesca!
O acesso às universidades é o momento de clímax do stress. É quando se intensificam as queixas físicas e emocionais que acompanham todos os tipos de alunos- cefaléia, dorsalgia, insônia, gastralgia, taquicardia, diarréia, alterações do apetite, irritabilidade, angústia e muitas outras. Quanto a saúde do professor, posso garantir que há grande comprometimento da qualidade de vida do educador sob a análise de vários contextos. Como médica há 30 anos posso declarar que as causas predominantes das consultas dos professores, que buscam tratamento em meu consultório, são emocionais e revelam diferentes graus de comprometimentos da saúde, principalmente na esfera mental.
Pais, alunos e toda a comunidade escolar precisam se organizar e buscar lideranças representativas. É necessário que, através de projetos legitimados, esses problemas sejam colocados em pauta. O governo precisa repensar e criar comissões de revisão dos conteúdos programáticos do ensino brasileiro. Precisamos de novas diretrizes. para que o ensino seja inteligente e útil. A desvalorização de matérias interessantes como filosofia, sociologia e arte ainda é observada e pode ser constatada pela oferta de horários mínimos na grade escolar e pela contratação de professores sem a devida formação.
Há escolas com lideranças criativas que driblam os conteúdos informativos estabelecidos. Nelas, encontramos alunos que gostam de estudar, porque aprendem com prazer. Seus arsenais individuais, seus talentos e pensamentos são valorizados. Contudo, quando o processo escolar se aproxima das provas de acesso ao ensino superior, surge o problema de que essas propostas enriquecedoras e inteligentes não suprem a cobrança da matéria inútil que abunda e garante o acesso ao ensino superior através do vestibular. Ter prazer em estudar deve ser a regra e não a exceção. Ninguém deveria ser punido por vivenciar essa experiência com uma reprovação. Até quando seremos obrigados a alinhavar e remendar um modelo que não nos serve mais?
A outra grave questão, em minha opinião, está situada extra muro escolar e representa duas prioridades perturbadoras relacionadas às famílias brasileiras. A primeira delas é quem cuidará de seus filhos pequenos enquanto trabalham e a segunda é depois que seus filhos já são adolescentes, o que ficam fazendo enquanto seus pais cumprem suas jornadas de trabalho. É preciso que o Estado se atualize e se comprometa com a condição atual da sociedade que projeta a mulher no mercado de trabalho e que, muitas vezes, faz dela a única responsável pelo provimento familiar. É possível solucionar essas questões com a implantação de creches, de escolas públicas integrais. Falta verba para isso? Que seja criado um imposto participativo da reforma educacional, aplicável conforme o ganho de capital anual de cada empresa que lucra com o Brasil, afinal uma boa educação é o que há de melhor em termos de investimento para o futuro.
Finalmente, saliento que acredito na necessidade de que a educação seja compreendida como meio capaz de estimular as potencialidades individuais criativas, de promover o exercício da cidadania nas suas diversas esferas (políticas, econômicas, sociais, ambientalistas) e de propiciar a realização de práticas esportivas, permitindo o seu desenvolvimento até mesmo à condição profissional. É preciso reformular o aproveitamento do tempo escolar entre “conteúdos”, realização de tarefas escolares, atividades físicas e participação de oficinas conforme aptidões-oficinas de teatro, música, canto, culinária, artesanato, artes plásticas. As oficinas podem se gerenciar através da venda de seus “produtos” (ex: ingressos, feirinhas) e assim, ampliar os horizontes de novas diversidades. Parece fácil. E por quais razões não é? É preciso tanta coisa possível, no entanto falta...
(autora: Cris Lopes)

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