terça-feira, 28 de julho de 2009

Os Rios




(Telas de Eduardo Camões)

Águas urgentes, águas calmas desvendam caminhos desconhecidos a cada segundo... Os rios percorrem curvas sinuosas, trajetos suaves. Margens próximas, braços distantes. Em alguns momentos se deparam com barreiras. Impedidos temporariamente, no repouso forçado, os rios são pajés, sábios da natureza: cautelosos, pacientes, permeáveis, persistentes. Não desistem, rezam e esperam a hora certa de seguir adiante. Simplesmente sabem que ela chegará e será imprevisível, a mais bela, porque os libertará da solidão... Quando, finalmente, prosseguem, transbordam a vitória daqueles que determinados reencontram o seu verdadeiro caminho.
Em outras passagens, o destino alcançado, depois do percurso incessante, trabalhoso, revela tão extraordinária imensidão que os rios são meninos assustados, desejam, contudo temem o desconhecido e, receosos lutam, criam rodamoinhos, na tentativa alucinada de recuarem, de estagnarem-se, enquanto avaliam se devem prosseguir. Fugaz tentativa, porque a vida tem força própria, movimento incessante, dinâmico. E a vida existe em cada molécula de água que nasce na fonte. Assim os rios são mães abnegadas, generosas no final do caminho: entregam-se, incondicionalmente, ao mar para serem recriados, perpetuados em algo maior, muito maior...
O mundo gira e o tempo revela que não há fim no caminho: a terra é acariciada, penetrada, nutrida. Agradecidas, as árvores verdejantes, se regojizam. Frondosas oferecem repouso, abrigo e seus frutos. Testemunha vibrante, o sol, amigo companheiro, acaricia e abraça ás águas. Oferece seu calor e as conduzem ao céu, o lugar para onde devem ser enlevadas por mérito, merecimento...
O silêncio desse mágico momento é rompido pela alegria do vento. Levado, ousado, faceiro esfrega-se nas folhas, levanta as saias das flores e solta gritos estrondosos pelo ar. Anuncia a chuva que, tal como o rio um dia foi, é mãe generosa e abençoa a vida de seus filhos.O ciclo de amor, troca natural reinicia. As águas retornam de onde partiram. Diluídas, perdem a memória de suas conquistas, no entanto algo inexplicável habita nas profundezas, em essência. E, nas noites enluaradas, finalmente, os rios se iluminam: são velhos e descansam em paz sua satisfação plena, porque sabem de onde vieram e como devem seguir adiante e simplesmente o fazem...

(Cris Lopes)

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